e borboletas voavam em sua homenagem.
Não voltaria no tempo para consertar os equívocos, não voltaria para a inocência que tinha
Tudo o que fora ainda nela prosseguia. De alguma forma ainda era ela.
vida, arte, tempo, demolição e enredo... heterotopias do cotidiano, mil platôs
Uma inesgotável fonte de energia alternativa nessas vísceras. E desse corpo, de tudo, de vontade, de querer não fazer paz com choro que já secou. Dessa alma de temperamento quente demais para segurar entre os dedos e esfriar segunda-feira torta. Disso tudo, eu, com minhas garras cortadas. Umbigo para abraçar goles e goles de emoção e anseio. Fundo de aspirações prolongadas em sussurros de versos sem rima e sem ordem. Fera solta dentro de mim. Garras cortadas para não convencer ninguém, não é preciso nada disso pra não seduzir mágico sem cobra e coelho. Que eu sinto essas vísceras de cantos, silêncios, meias e universos que me sugam para a ponta do abismo de mim onde não existe tempo para perder com carro emperrado nas minhas curvas. Não sei mais como dizer o quanto eu não quero isso plastificado. Em quantas cores eu já me desbotei na tentativa de ir mais longe, encontrar uma escada sem degraus de mim e de alguém, procurando chãos aos céus de mim e dele. Porque não sei. Não sei quais palavras usar; eu não tenho novas maneiras de descrever explosões, implosões, exteriores, interiores. Existe é uma bomba na minha boca, todos já sabem... Eu mal posso evitar, pois está na dor de quem inflama e vira coisa derretida, pedaço, capa. Escapa e cai pela janela, a altura e o cabaré com sofá de couro. Minha cara pintada, unhas ainda marcadas com aqueles dedos moços e felicidades engarrafadas também largadas ao lado esquerdo. É impossível não saber. Não me saber de cores, versos e ventos ao avesso. Nas sextas-feiras tortas de saia rodada e sussurros para dentro. Saio um pouquinho de mim, ofereço um beijo aguardado e o vejo correr. Aquele menino fazer cara de quem quer mais calda de chocolate no bolo, uma cereja descomportada no prato, mais uma vela para assoprar antes de crescer. Tantas coisas, tantas cores desbotadas para nascer domingo antes da quarta ser uma flor comigo. Como se não houvesse mais espaço - e sempre há. Só não sei onde vai dar. Onde vou me dar de fundos e profundidões arrancadas. Vendo esse mundo me encarar bonito, me apertar, me enrolar, me queixar uma falta de algo assim, sei lá. E quando jogo as pétalas na chuva sou sereno apressado, talvez arco-íris para tempo fechado; mania de clarear essa minha e do sol... E as tais ‘garrafas de ficar mais um pouco’ vão sempre deixando, me deixando mais um pouco, por engano.

"Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo...um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém.
Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!... "
"Eu não tenho enredo...
Sou inopinadamente fragmentária.
Sou aos poucos.
Assim eu sou sim e sou não. E aguardo com paciência a alegria dos contrários (...)
Porque não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido: eu não. Eu quero uma verdade inventada. (...)
Já que o mundo não tem uma ordem visível. E eu só tenho a ordem da respiração. Deixo-me acontecer.
Minha história é viver." ![]()
( Clarice Lispector adapted)
