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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Hoje não, baby!!!

Eu adoraria ficar e desperdiçar meu precioso tempo com você, crise, mas, sinceramente não posso, muita coisa acontecendo lá fora pra que eu possa permitir você entrando na minha vida e me tirando a graça de sair correndo contra o relógio e vencê-lo todos os dias. O fato é que meu mundo em mim começa com um silêncio, um motivo e um passo. E tenho me findado antes do tempo, antes do beijo, antes de querer ir. Começo a acreditar nessa nossa descrença por perguntas insistentes, diálogos uniformizados e ângulos únicos. E venho lapidando um pouco mais as minhas decisões. Sei que agora eu quero não estar tão solta, tão boba, tão rara. Quero ser possível, ficar rente e encostar a língua no tempo pra entender o gosto dessa pressa que já não cabe, o quanto de mim estar ali, aqui e em qualquer lugar. Quero entender o meu limite, saber o momento em que eu posso aceitar tantos desencontros e decepções. É. Estou aceitando todas as minhas febres. Aceito que ainda não sei dar espaços e acredito - na contramão de todas as circunstâncias - que, pensar que lá na frente a gente se entende, que a gente se cuida, que a gente se sente, que a gente se bate: salva. Por muito tempo eu fui de muitas respostas e poucos atrasos. Já deixei passar, fingia que não via, que não sabia, que não queria. Já andei com os minutos adiantados. Já peguei muitos atalhos. Minimizei tantos erros. E recolhi inúmeras vontades. Por preguiça ou receio. Para não assumir sentimentos ou por qualquer outro motivo, engoli muitos sapos. Mas agora eu só quero um sinal de qualquer coisa que não queira ir além do meu instante. Aceito qualquer coisa que dure, no meu tempo. Por isso, hoje não, baby, nada de crise, meu relógio é meu maior invento e sou eu que controlo meu tempo, e não há tempo a perder, e nem motivo pra desistir, há ainda um imenso universo esperando o compasso bonito dos que acreditam. Por isso, hoje não, dona crise, estou evitando desperdícios de energia, se é que você me entende. (Priscila Rôde adaptado)






sábado, 17 de setembro de 2011

Linha do tempo

Sozinha em meus minutos de além-mar, um livro me vem a mão, é Rubem Alves, com seu título para mim “A solidão amiga”, começo a ler e minhas mãos ficam incontroláveis em rabiscar os trechos mais amados, o livro está todo rabiscado, folheio o fim do conto e me vem de encontro “A imagem o rosto”, também aqui minhas mãos tentam apalpar o inefável das entrelinhas de Rubem... tão poético, tão humano. Ligo o computador, enquanto as suas luzes se acendem é meu reflexo que vejo, em meio à solidão bonita do sábado místico, o dia de ouvir a minha voz, de eu, matraqueira que sou, ficar no bonito silêncio das palavras mudas dos livros.
Começo o dia amanhecida por pássaros que cantam o nascer do sol, o café da manhã é filosófico, e depois só Rubem Alves como companhia, falando de rostos, de tempo, de solidão.
No reflexo desse meu rosto consigo finalmente assimilar o que a letra poética do poeta mineiro diz: o tempo está passando e cravando em meu rosto, agora menos rechonchudo que o da adolescente que já se foi, agora com as linhas marcadas que separam quem um dia fui de quem agora sou. Essas marcas boas e ruins que só o tempo é capaz de tecer, essa coisa de esboçar meu próprio mundo nos contornos de meu rosto.
Agora esse rosto é reflexo do que já foi escrito nas esquinas da vida, agora existe um belo amor por cada pedaço do meu mundo, como de Rubem, meus objetos (muitos feitos por mim mesma), meus livros (de literatura à direito), meus quadros (que eu venho tentando pintar), minhas músicas (as cantadas e as ouvidas), minhas palavras ( ditas, escritas, cuspidas, gritadas, que ecoam), são todos espelhos onde me vejo, fragmentos do meu rosto que ofereço ao outro, tudo aos olhos que só a solidão de ternura é capaz de enxergar. Volto à Rubem, preciso de seu falar.