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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O vestidinho feio



Ultimamente tenho me deparado com diferentes situações, em tempos também diferentes. Minha mãe já dizia – Os tempos mudaram... Mas, a singularidade de cada caso, não importando seus personagens, permanece inalterada. Aliás, os bons costumes ainda não estão fora de moda, ou estão???  Você pode até achar que sou antiquada, mas não posso me manifestar de outra maneira, senão repudiando o comportamento de certas mulheres.
Claro que as bundas malhadas e bronzeadas que andam por aí, pelos canais pornô-familiares recheiam muito mais as contas de suas donas alvoroçadas que meus esforços contínuos em ser “brilhante”. Ainda assim acho um absurdo ligar a TV no domingo e não conseguir ver nada além de pêlos descoloridos e marquinhas de biquíni. Claro que como uma boa mulher também me rendo à certas vaidades “fúteis” e adoro me sentir bonita, mas eu garanto que meu salário jamais dependerá do tamanho da minha bunda.
 Uma mulher bonita e inteligente hoje em dia além de espécie em extinção, normalmente é tachada de lésbica, feminista, radical e coisas afins. Esse culto ao corpo sem tamanho afasta as bonitas da concorrência do mercado de trabalho e entulha as TVs, os sites de relacionamento, a internet em si e todos os outros meios de exposição em massa. Lá sim a concorrência é monstruosa, e ganha quem tem a cintura mais fina combinado ao maior silicone e com a bunda mais bonita, se tiver um QIzinho (e aqui falo do Quem Indica mesmo) melhor ainda... Bom, melhor pra mim, né???? Pelo menos nos índices de concorrência da vida real os números caem. Entretanto, confesso que o número de mulheres que se encaixam no perfil “bonita e gostosa para a TV” é bem pequeno em relação ao índice de mulheres “normais” batalhando a vida fora dos realitys shows...
Esses tempos atrás, vendo a um dos únicos programas de TV que ainda não usam a apelação bundal para ter audiência, vi o abominável homem do S (Silvio Santos, para os menos críticos...) dizendo à pelada mulher samambaia que bonita como ela era, nem precisava falar. Na ocasião, ela participava de um programa daqueles ridículos em que as gostosas vão cantar, e a samambaiosa não sabia as letras das músicas, o velho babão ficou literalmente babando pelas curvas, confesso, deslumbrantes da moça. Mas, dizer que "Ela é tão bonita que não precisa nem falar", isso me fez comer as unhas. Nossa, fiquei dias ofendida com a aclamação à burrice e aos closes ginecológicos. E então, como se não bastasse o absurdo de ver aquela mulher com algumas míseras folhinhas tampando sua pélvis bronzeada sendo vangloriada por não saber patavinas de nada, me aparece uma outra pelada que, após ser xingada e achocoalhada por nada menos que uma universidade inteira, agora está com o corpo da Carla Perez em seu tempo de “É o tchan” e atrás de um namorado na TV... Sim, estou falando da tal Geisy Arruda, que agora participa de programas de auditório como se fosse celebridade....
É mesmo o cúmulo do oportunismo. Quando vi a cena da universidade, questionei muitas vezes a liberdade de se ir e vir com seja lá qualquer roupa. Afinal, todo aquele estardalhaço foi causado por um vestidinho, que diga-se de passagem era bem feio e escondia apenas umas pernas celulitosas.
Fiquei realmente impressionada com o vandalismo moral que havia ocorrido naquele momento. Mais indignada ainda, quando a UNIBAN, universidade onde aconteceu a epopéia fatídica, expulsou a mocinha do seu corpo de alunos. Como estudante de direito, repensei por inúmeras vezes os direitos fundamentais e toda a parafernália escrita na constituição em seu artigo 5.º. E convenhamos, cheguei à conclusão de que quando algo assim acontece no ambiente escolar, como na universidade, cabe à direção da unidade de ensino tomar, sim, providências imediatas e advertir, sim, a aluna. Entretanto é inadmissível a selvageria dos alunos, e estes devem ser punidos exemplarmente, vez que linchamentos públicos não são toleráveis. Ou seja, discordo totalmente da atitude anarquista dos alunos frente à ex-gordinha mau-vestida, e ainda repudio à postura da Universidade frente aos alunos vândalos e à ela, que deveria sim ter sido punida pela roupa pouco adequada, mas jamais com uma expulsão. Isto é, se essa verdade não tiver sido manipulada pela imprensa, porque esses "debates" comandados pela imprensa são sempre superficiais, privilegiando o espetáculo e a audiência. Por isso, acho que alguns pontos deveriam ficar claros, mas jamais saberemos a verdade. Mas também penso que esse nem é mais o foco da discussão, o que aconteceu na Universidade, pra mim, deixou de ser absurdo frente ao que veio depois, porque pior do que o vandalismo pós-adolescente contra o mini-vestidinho feio, é o fato de que ao invés de aproveitar a oportunidade para defender sim, o direito de ir e vir com qualquer roupinha feia que se quiser, a mocinha de formas fartas fez o inverso, mostrou que aquele exibicionismo leviano em local impróprio, tratava-se apenas de canalhice oportunista e barata. Afinal, a mocinha agora é pupila de um tal Julinho do Carmo, fez lipo-escultura (que confesso não ter ajudado muito), e agora participa de programas de TV como se fosse uma artista e ainda será personagem principal de um programa de caça à namorados. Portanto, o tal mini-vestido que gerou tanta discórdia transformou a Geisy Arruda , estudante universitária e garçonete, em mais uma gostosa da TV. Assim, ao invés de defendê-la, e olha que minha pesquisa na universidade é justamente sobre gênero, preciso, tenho, devo, criticar a atitude oportunista e exibicionista que envergonhou essa feminista aqui.
Com isso que aconteceu, percebi que ao contrário de lutar por liberdade e por um espaço justo frente aos homens, nós mulheres militantes feministas e dos direitos humanos, devemos mobilizar as entidades ara a construção de melhores seres humanos, cidadãos conscientes, em ambientes democráticos, dialogais, participativos, mas regrados, e não apenas para garantir que moças possam exibir coxas supostamente belas.
E para tantos que lançam a pecha de preconceituosos aos que criticam a possibilidade de cerceamento do inadequado vestir (ou despir), e outros regramentos inadiáveis, em tempos de juventude atabalhoada e à deriva, um conselho: nem toda crítica é preconceito, pois nem todo comportamento está acima de qualquer suspeita ou reparo. Romper o senso comum, como aconteceu com a meninota Geisy, em muitos casos, pode ser ato de vanguarda visionária, mas, na maioria das vezes, rompimentos podem ser só irresponsabilidade juvenil mesmo, e ao que parece foi exatamente isso que aconteceu mais uma vez. E essa irresponsabilidade juvenil agora “Geysiana”, cheia de mais bundas e corpos esculturados é sempre preconceituosa, pois entende ser lixo descartável todo o acúmulo civilizatório que permitiu a convivência social. E, pior, combatem na arena não aquilo que de fundamental precisa ser mudado, como a desigualdade social, o individualismo feroz, o consumismo narcisista, o modelo excludente de produção de riquezas, mas apenas aquelas lutas que permitem a cada um contemplar o próprio umbigo (ou as próprias coxas) melhor e com mais conforto. 

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