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sábado, 17 de setembro de 2011

Linha do tempo

Sozinha em meus minutos de além-mar, um livro me vem a mão, é Rubem Alves, com seu título para mim “A solidão amiga”, começo a ler e minhas mãos ficam incontroláveis em rabiscar os trechos mais amados, o livro está todo rabiscado, folheio o fim do conto e me vem de encontro “A imagem o rosto”, também aqui minhas mãos tentam apalpar o inefável das entrelinhas de Rubem... tão poético, tão humano. Ligo o computador, enquanto as suas luzes se acendem é meu reflexo que vejo, em meio à solidão bonita do sábado místico, o dia de ouvir a minha voz, de eu, matraqueira que sou, ficar no bonito silêncio das palavras mudas dos livros.
Começo o dia amanhecida por pássaros que cantam o nascer do sol, o café da manhã é filosófico, e depois só Rubem Alves como companhia, falando de rostos, de tempo, de solidão.
No reflexo desse meu rosto consigo finalmente assimilar o que a letra poética do poeta mineiro diz: o tempo está passando e cravando em meu rosto, agora menos rechonchudo que o da adolescente que já se foi, agora com as linhas marcadas que separam quem um dia fui de quem agora sou. Essas marcas boas e ruins que só o tempo é capaz de tecer, essa coisa de esboçar meu próprio mundo nos contornos de meu rosto.
Agora esse rosto é reflexo do que já foi escrito nas esquinas da vida, agora existe um belo amor por cada pedaço do meu mundo, como de Rubem, meus objetos (muitos feitos por mim mesma), meus livros (de literatura à direito), meus quadros (que eu venho tentando pintar), minhas músicas (as cantadas e as ouvidas), minhas palavras ( ditas, escritas, cuspidas, gritadas, que ecoam), são todos espelhos onde me vejo, fragmentos do meu rosto que ofereço ao outro, tudo aos olhos que só a solidão de ternura é capaz de enxergar. Volto à Rubem, preciso de seu falar.




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