domingo, 27 de março de 2011
Violaram meu asilo inviolável
Constitucionalmente falando, a casa é um asilo inviolável.
O fato é... Violaram meu asilo inviolável.
Essa noite, ao voltar pra casa depois de algumas horas incríveis com bom som e pouca luz, nos deparamos com um ultraje. Nossa casa foi arrombada. Entraram pela porta dos fundos, sem pedir licença e sem ser meticuloso. Foram direto no nosso coração, levaram nossos notebooks e junto com eles toda uma história de noites acordados fazendo monografias, produzindo textos, desenhando softwares, levaram minha máquina fotográfica velha e amada, e meu celular, velho e amado...
Como eu estou me sentindo? Estuprada moralmente, sem segurança nenhuma e distante de uma vida feliz numa sociedade menos violenta.
Quando acontece com os outros, quando acontece na TV, ficamos chocados, nos sentindo mal e tristes com a verdadeira verdade social. Entretanto, quando acontece conosco o buraco é mais embaixo. Nos deparamos com a realidade nua e crua que todos estamos suscetíveis à violência e que somos parte dela, causa e efeito.
Obviamente que o furto ocorreu pelas mãos de um drogadito que vai transformar nossas noites de estudo em paradinhas de alguma coisa ou que vire fumaça ou que vire carreirinha. É realmente triste saber que o bandido sequer ter noção de que ali naqueles arquivos estão nossas fotografias recortadas, nossas lembranças de viagens, tempos vividos, pessoas amadas. Mal sabe o malandro que ali estão nossos futuros profissionais como pesquisadores ou web designers. Mal sabe o drogadito que aquele aparelhinho velho de celular era o pupilo de meu pai que adorava aquelas teclas velhas. Mal sabe o delinqüente o valor moral das nossas memórias.
Sem qualquer dúvida hoje mais do que nunca me sinto péssima de talvez um dia ter contribuído para a máquina do crime de alguma forma, sendo corrupta ou desonesta em alguma coisa.
É trágico saber que de alguma forma podemos também ser os culpados pela fragilidade de nossa segurança. Uma sociedade doente só pode produzir indivíduos adoentados e cá estamos nós narrando a última noite como vítimas. Essa é a verdade da sociedade.
Aonde se escondeu nossa segurança? Aonde está nossa liberdade? Quem são os presos na verdade?
É o início de mais um apanhado de reflexões acerca do meu papel no mundo como futura jurista.
Sinto-me revoltada por saber que a verdade entra na nossa vida arrombando portas.
Esse post vem recheado de indignação e ultraje. É só o primeiro desabafo de quem ainda não tem as idéias no lugar...É um post sem fotos, somente com fatos...
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1 comentários:
Estamos conversando sobre isso nesse exato momento.. e concordo contigo quando questiona quem na verdade "são os presos de verdade?"..
Nós, simplesmente nós somos os presos de verdade, pois não podemos nem sentarmos nas nossas calçadas para papear sem receio, o medo toma conta de nós, não podemos nem se quer deixar as portas e janelas abertas de nossas casas para que o sol entre com sua energia e o vento com sua leveza, pois o medo de ser deparada com um ancião está cada vez mais presente!
Tenho fé e esperança que ainda podemos mudar o contexto desse mundo caótico em que vivemos e não quero perder essa fé e muito menos essa esperança, pois se um dia perder, não saberei como viver perante tudo isso.
Beijos, flor!
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